A mais recente intervenção no Palácio Nacional da Pena trouxe à luz um segredo há muito escondido: a pintura decorativa original da Segunda Sala de Passagem, criada por artistas contratados por D. Fernando II na década de 1860, foi agora descoberta e restaurada.
Ocultada por uma intervenção do século XX, esta decoração revela-se com elegantes tons de azul e ocre, influências orientais e uma delicada treliça no teto, executada em técnica semi-trompe l’oeil. O ambiente exótico idealizado por D. Fernando II completa-se com o mobiliário e com os restantes objetos que o monarca selecionou para este espaço e que estão de regresso ao local original, após a revisão da museografia.
O projeto de conservação e restauro da Primeira e da Segunda Salas de Passagem do Palácio da Pena que durou cerca de um ano, foi precedido de uma investigação minuciosa, apoiada em fotografias antigas, documentação de época e sondagens parietais que permitiram identificar vestígios da pintura original, incluindo o teto, até agora sem qualquer registo visual conhecido. A intervenção foi feita manualmente, por uma equipa multidisciplinar, com recurso a técnicas adaptadas às especificidades do espaço.
A reabilitação incluiu também a musealização da Primeira e Segunda Salas de Passagem, espaços que serviam de transição entre o mosteiro quinhentista e o chamado Palácio Novo. A primeira sala, clara e neogótica, contrasta com a segunda, mais sombria e exótica — um jogo de luz e sombra típico do gosto romântico da época.
Foram reintegradas peças de mobiliário e objetos decorativos originalmente escolhidos por D. Fernando II, como arcas orientais, esculturas em cerâmica chinesa, jarras em faiança, uma terrina francesa em forma de lebre, entre outros. Também regressaram obras de arte pertencentes ao rei, como quadros de João Cristino da Silva e pinturas recentemente adquiridas que ajudam a recriar o ambiente de galeria de arte privada que estas salas terão tido no passado. As cortinas foram recriadas com base em modelos históricos, utilizando renda de Nottingham produzida em tear tradicional, de acordo com referências encontradas em inventários e iconografia da época.
A intervenção nas Salas de Passagem, designadamente a recuperação dos seus revestimentos, enquadra-se na estratégia global de salvaguarda do património sob gestão da Parques de Sintra, que visa conservar e recuperar a autenticidade do conjunto de elevado valor histórico que o Palácio Nacional da Pena constitui, melhorando a leitura e experiência de visita ao monumento. De acordo com o plano previamente estabelecido, prevê-se que os trabalhos de conservação e restauro dos revestimentos interiores continuem nos restantes espaços do piso nobre do Palácio.
Simultaneamente, a musealização das referidas divisões integra o projeto global que vem sendo implementado nos interiores do Palácio Nacional da Pena, com vista à reconstituição histórica dos ambientes domésticos que marcaram a vivência da Família Real neste monumento. Para tal, tem sido levada a cabo uma profunda investigação histórica, apoiada em fontes documentais e em iconografia da época.
Imagem: DR_PSML_José Marques Silva




